Crítica: Quatro Moscas sobre Veludo Cinza (1971), de Dario Argento

Quatro Moscas sobre Veludo Cinza é o terceiro longa da chamada “Trilogia dos Animais”, iniciada com “O Pássaro das Plumas de Cristal” (1970) e seguida por “O Gato de Nove Caudas” (1971). Dirigido por Dario Argento, o filme mantém os elementos que o consagraram como mestre do giallo — o suspense policial estilizado tipicamente italiano — mas entrega uma obra que, embora interessante, está aquém dos títulos anteriores.

Neste longa, Argento segue apostando em uma narrativa de mistério com identidade desconhecida, em que o protagonista se vê envolvido em uma sequência de acontecimentos perturbadores e tenta desvendar, junto ao espectador, quem está por trás de tudo. A premissa é boa e há momentos em que o enredo consegue prender a atenção, mas a condução geral do filme é menos envolvente do que em “Prelúdio para Matar” (1975) ou “O Pássaro das Plumas de Cristal“, ambos superiores em ritmo, atmosfera e acabamento.

Os diálogos são um ponto fraco. Soam artificiais em boa parte das cenas e comprometem o impacto de algumas passagens importantes. As atuações também deixam a desejar — principalmente a de Mimsy Farmer, que tem papel central na trama, mas entrega uma performance pouco convincente. Essa fragilidade interpretativa compromete, inclusive, o clímax do filme: o desfecho tinha potencial, mas perde força justamente pela execução fraca do elenco. A revelação da identidade do assassino, por exemplo, recorre a um recurso fantasioso demais, que quebra a suspensão de descrença.

Quatro moscas sobre veludo cinza (Quattro mosche di velluto grigio). Filme de 1971 dirigido por Dario Argento

Por outro lado, Argento acerta ao inserir pitadas de humor sutil ao longo da trama — algo que ele consegue fazer bem em outras de suas obras. Esses momentos quebram a tensão de forma eficiente e tornam o filme mais leve e agradável de assistir, mesmo que isso não seja suficiente para elevá-lo ao patamar de seus melhores trabalhos.

Visualmente, o filme carrega a assinatura estilística do diretor, com bons enquadramentos e uso interessante da trilha sonora, ainda que nada salte aos olhos como em obras posteriores, onde sua estética se tornaria mais refinada e autoral.

No fim das contas, “Quatro Moscas sobre Veludo Cinza” é um bom filme, especialmente para quem já aprecia o cinema de Dario Argento. Não é seu trabalho mais marcante, mas entrega o que se espera de um thriller do gênero: mistério, estilo e uma condução razoavelmente sólida. Para quem ainda não conhece o diretor, no entanto, a melhor porta de entrada continua sendo Prelúdio para Matar, onde sua direção, trilha e tensão atingem um equilíbrio mais maduro e impactante.

Nota do filme

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