No Other Land (Sem Chão) é um documentário independente dirigido por Basil Adra, palestino, e Yuval Abraham, israelense, lançado em 2024. A obra, vencedora do Oscar de Melhor Documentário Longa-metragem, traz à tona a complexa e dolorosa problemática do conflito entre Israel e Palestina. O documentário não é apenas um registro audiovisual, mas um alerta contundente para o mundo sobre a realidade da Palestina, que costuma ser ignorada ou distorcida pelo Ocidente, representado pela grande mídia e grandes empresas.
A produção se destaca por apresentar um lado da história pouco acessível ao público ocidental, mostrando como a narrativa dominante, influenciada principalmente por Estados Unidos e outros países ocidentais, tende a ser pró-Israel, apagando ou minimizando a voz palestina. Isso fica claro ao longo do filme, que reúne registros diretos, filmagens amadoras feitas com celulares e câmeras de vídeo, além dos próprios depoimentos dos diretores e das pessoas diretamente afetadas pelo conflito. A mensagem é urgente e necessária para quem deseja entender um pouco mais alguns fundamentos do conflito e as injustiças que estão sendo cometidas contra o povo palestino.
O título “Sem Chão” reflete literalmente a situação da população palestina, que está sendo sistematicamente despejada de suas casas e territórios. O documentário evidencia a política de expansão territorial israelense que, sob pretextos como “treinamentos ou zonas militares”, expulsa famílias palestinas de gerações inteiras. Essas expulsões não são apenas físicas, mas também simbólicas, pois colocam essas pessoas em um estado constante de deslocamento, insegurança, repressão e cerco. E aí, lhe faço uma reflexão bastante importante: depois do que você ver (ou viu) neste documentário, coloque-se no lugar daqueles palestinos, como você acha que essas pessoas são pelo ponto de vista psicológico e humano? Sendo que elas estão sistematicamente sendo humilhadas, sofrendo repressões, abusos, despejos, convivendo com mortes, com o terror psicológico e a insegurança…Pense apenas por um momento.
Enquanto isso, os cidadãos israelenses circulam livremente pelo território palestino e fora dele, já os palestinos são confinados, controlados rigorosamente, proibidos de sair livremente de seus territórios e submetidos a uma série de restrições totalmente arbitrárias.

Além das ações “oficiais” do exército israelense, o documentário mostra a violência exercida por colonos israelenses que atuam como milícias ou grupos paramilitares, muitas vezes (para não dizer sempre) agindo com o apoio das forças militares para despejar palestinos e intimidar a população local. A truculência é brutal, com relatos e imagens de violência gratuita, uso de armas contra civis desarmados, destruição de casas e até escolas. Essas cenas expõem uma realidade chocante, na qual a população palestina sofre ataques e agressões sem nenhum tipo de compaixão ou consideração pelos direitos humanos.
O documentário vai além de uma mera exposição dos fatos, fazendo um alerta direto ao público ocidental para que busque uma compreensão mais profunda do conflito. Aqui destaco algo que percebi ao buscar mais documentários e filmes que abordem a visão palestina do conflito, e é impressionante como a maioria das plataformas de streaming não oferece acesso fácil a produções que apresentam o ponto de vista do Oriente Médio, dificultando o acesso a narrativas plurais e necessárias para se formar uma opinião crítica e informada. Parece que este tipo de produção e/ou material não é “interessante” para essas empresas. “Sem Chão” surge como uma obra essencial para desconstruir a visão unilateral e para mostrar que o que está em curso é, na verdade, um genocídio.

Já esteticamente, “Sem Chão” é uma produção simples, até amadora em sua execução técnica. A linguagem do filme é feita de registros variados, filmagens improvisadas e depoimentos reais, o que reforça seu caráter documental e autêntico. A direção de Basil Adra e Yuval Abraham não investe em artifícios técnicos ou em uma produção sofisticada, mas sim na força das imagens e dos relatos para transmitir a gravidade da situação. A narrativa é construída principalmente por meio dos testemunhos dos próprios palestinos, que compartilham suas histórias de dor, resistência e esperança, e pelas conversas entre os diretores, que também revelam suas conexões pessoais com o conflito.
Por todos esses motivos, “No Other Land” (Sem Chão) é um documentário obrigatório para quem quer entender os fatos por trás das manchetes, os detalhes que as grandes mídias não mostram e as vozes que são silenciadas, inclusive com as suas mortes. Ele serve como um chamado à reflexão, à empatia e à ação diante de uma tragédia humana que continua em curso. O documentário não serve apenas como uma denúncia, mas também como um convite para que o público ocidental se liberte de narrativas enviesadas e procure compreender a complexidade e a profundidade do conflito entre Israel e Palestina, e diria também a problemática dos conflitos no Oriente Médio.


Rafael da Silva Pereira nasceu em São Paulo, capital, atualmente cursa História pela Universidade Estácio de Sá. Fascinado pelo lado sombrio do horror desde muito jovem, encontrou no terror clássico sua principal fonte de inspiração — influenciado por obras cinematográficas como Halloween (1978), Sexta-feira 13 (1980) e O Massacre da Serra Elétrica (1974).
É autor do livro “Religiões UFO: ufolatria que invade mentes”, publicado pela Editora Cia do Mistério, onde investigou com rigor histórico e olhar crítico as manifestações religiosas ligadas ao fenômeno ufológico.
Além da escrita, Rafael também é divulgador científico e editor-chefe da Revista Giordano, dedicada à difusão da ciência com uma abordagem acessível e interdisciplinar.
Está escrevendo agora seu primeiro terror chamado “Bootzamon”, no qual Rafael dá voz às sombras que sussurram por entre milharais, casas e estradas de Black Hollow. Mais do que uma história de terror, este livro é um mergulho no imaginário de uma América rural marcada por segredos antigos, pactos silenciosos e um mal que nunca desaparece — apenas espera a próxima colheita.