“A Mulher na Janela”, um filme de suspense de 2021, dirigido pelo britânico Joe Wright (vencedor de 2 prêmios BAFTA com os filmes “Charles II: The Power & the Passion” e “Orgulho e Preconceito”), conta com um elenco de peso, inclusive com vencedores de Oscars, sendo eles: Amy Adams (A Chegada), Gary Oldman (Drácula, O Destino de uma Nação, Harry Potter, Batman etc.), Anthony Mackie (Capitão América – Admirável Mundo Novo, 8 Mile), Julianne Moore (Para Sempre Alice) e Wyatt Russell (Thunderbolts e Falcão e o Soldado Invernal), entre outros.
Essa obra é baseada no livro que tem o mesmo título do filme, escrito por A. J. Finn, e sobre o livro pouco posso falar, pois nunca o li, logo, não posso opinar se foi realizada uma boa adaptação da obra ou não. Ou seja, minha crítica será unicamente pautada na minha experiência com o filme, mas fica esse registro como curiosidade, caso você queira ler a fonte original de inspiração para a história.
Pois bem, a premissa de “A Mulher na Janela” é a seguinte, vou compartilhar a sinopse e, posteriormente, minhas ponderações:
“Anna Fox (interpretada por Amy Adams) vive sozinha na casa onde antes morava com sua família, agora desfeita. Distante do marido e da filha, e lidando com uma fobia que a impede de sair, ela passa os dias abusando da bebida alcoólica, filmes e conversas virtuais com desconhecidos. A rotina muda quando novos vizinhos se instalam na casa da frente, despertando em Anna uma fixação por aquilo que parece ser uma vida ideal. Mas tudo toma um rumo inesperado quando, certa noite, ao observar a casa com sua câmera, ela presencia algo que vira seu mundo de cabeça para baixo.”
Qualquer parte que servirá como uma crítica construtiva ao longo do meu texto certamente não recairá sobre as atuações do elenco, pois vejo este aspecto (as atuações) como um dos pontos altos deste filme. O que, convenhamos, já seria algo esperado, tendo em vista a qualidade do elenco. Sendo assim, já fica aqui meu primeiro elogio ao filme.

A premissa do filme, como vimos, parece algo bastante interessante, mas adianto que não se trata de algo original ou inovador, pois já vimos uma ideia neste sentido em 1954 com “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Filme este que vi neste ano e que merece uma crítica aqui no site, sendo que já havia compartilhado minha opinião sobre o filme de Hitchcock no meu perfil do Letterboxd (vou deixar o link do meu perfil no final deste texto). No filme “Janela Indiscreta” vemos uma atuação brilhante de James Stewart, que interpreta um fotógrafo que está com a perna quebrada e, por isso, fica recluso em seu apartamento e, para passar o tempo, fica bisbilhotando a vida de seus vizinhos até testemunhar o que ele pensa ser um assassinato.
Contudo, na obra genial de Hitchcock, existe uma tensão ainda muito maior com o ambiente externo, focando quase que toda a trama no que ocorre lá do lado de fora, nas janelas dos vizinhos. Já aqui, em “A Mulher na Janela”, de Joe Wright, apesar de ter a semelhança de ser filmado igualmente num único ambiente — o que ajuda a criar uma atmosfera de suspense — ele não foca tanto nas janelas e no ambiente externo, utilizando-se disso apenas em alguns raros momentos de suspense, o que, para mim, torna-se uma decisão errada do diretor, que provavelmente não o fez desta forma para que não existissem comparações com “Janela Indiscreta”, mas olha só eu aqui comparando com ele de qualquer jeito!
Uma grande semelhança entre a atuação de Amy Adams com a de James Stewart trata-se da curiosidade que ambos têm em “curiar” a vida de seus vizinhos, porém por motivações distintas. James Stewart, em “Janela Indiscreta”, por ser apenas um curioso com tempo livre; já a atriz Amy Adams, por uma questão psicológica que será usada como pretexto nesta trama.
Acontece que a personagem Anna Fox (Amy Adams) sofre de agorafobia, uma perturbação de ansiedade que a impede de sair da sua residência, pois, do contrário, isso lhe geraria um profundo ataque de pânico. E as razões de ela ter essa condição são explicadas ao longo da trama.
Dois fatos importantes que devemos ter em mente são que a agorafobia lhe faz tomar uma quantidade grande de medicamentos que, aliado ao alto consumo de bebida alcoólica por parte da protagonista, faz com que fiquemos com certas suspeitas se tudo que ela está enxergando, interpretando e dizendo, de fato, condiz ou não com a realidade. Logo, o diretor Joe Wright, ciente disso, brinca com o espectador e coloca cenas que parecem um tanto quanto psicodélicas, para que acreditemos que a protagonista esteja simplesmente delirando sob o efeito de medicamentos pesados. Um outro ponto é que a agorafobia lhe faz ter outros transtornos, e diria que um deles, não mencionado abertamente no filme, trata-se de um suposto comportamento “stalking” ou “stalker” dela com os vizinhos, beirando às vezes a perseguição. Diga-se que a utilização deste recurso “psicopatológico” na história acho algo muito bacana e super válido.
O filme tem uma tentativa de reviravolta no final dele, que é uma ideia muito louvável e acertada para o roteiro, porém a história me pareceu um tanto quanto previsível. Já que citei o final do filme (calma, não vou dizer o final da história), gostaria de mencionar que há uma cena que achei bizarra. Cena essa em que há um confronto, onde reparei num detalhe de efeitos especiais e maquiagem que achei bastante mal executado, para não dizer mentiroso. E fiquei bem desapontado com isso, uma vez que naquele momento do filme ele estava demonstrando uma crescente ou reviravolta muito boa na violência, o que me agradou bastante, mas foi totalmente quebrado com a má execução desta cena.
Para que saibam, trata-se de um objeto que foi quase que transpassado no rosto de uma das pessoas, e nesta cena quase não há sangue, além de um efeito muito mal-acabado. Em seguida, há uma cena que envolve água, e o tal machucado grave e o sangue que deveria existir por conta da lesão grave são simplesmente inexistentes. O que contrasta totalmente com uma outra cena anterior a esta que mencionei, em que a violência é até bem explorada e executada. Ou seja, temos no final uma cena cuja execução simplesmente não me convenceu.
Ambos os filmes exploram até que bem o fato de se passar em um único ambiente, porém o de Hitchcock, ao focar no que se passa nas janelas vizinhas, nos prende muito mais que “A Mulher na Janela”. Isso porque, nesta obra, há uma tentativa de que nos envolvamos aos poucos com o drama e a história da personagem principal, fazendo com que o filme tenha um ritmo mais lento e cadenciado, o que, na minha opinião, funciona muito mal e desvia o foco de um suspense que poderia ser melhor explorado pelo diretor.
Algo que senti falta neste filme foi uma trilha sonora marcante, pois, ao escrever este texto — que está sendo escrito no dia seguinte em que o assisti —, eu simplesmente não me recordo absolutamente nada da trilha, fazendo com que o filme seja ainda um pouco mais apagado.

Enfim, finalizando a minha crítica: em “A Mulher na Janela” vi um filme com uma boa atuação, uma boa premissa, mas com uma tensão, ambientação e suspense que poderiam ser melhores aproveitados, um ritmo lento na construção dos fatos, efeitos especiais e maquiagens bem simples (e abaixo do esperado) e uma trilha sonora apagadíssima. Diria, então, que seria um filme no máximo “ok”, e isso por conta das atuações que salvam o filme, apesar de atuações não tão brilhantes e inesquecíveis. É isso!
Já que fiz esse comparativo, recomendo fortemente que assistam “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock — este sim um filmaço sensacional!
E aí, você já viu este filme? Se sim, o que achou? Comente aí! Caso tenha lido o livro, por favor, me diga se foi uma boa adaptação ou não. Obrigado por ler até aqui!
Minha crítica de “Janela Indiscreta” do diretor Alfred Hitchcock no meu Letterboxd: https://letterboxd.com/rafa_jaqueta/film/rear-window/


Rafael da Silva Pereira nasceu em São Paulo, capital, atualmente cursa História pela Universidade Estácio de Sá. Fascinado pelo lado sombrio do horror desde muito jovem, encontrou no terror clássico sua principal fonte de inspiração — influenciado por obras cinematográficas como Halloween (1978), Sexta-feira 13 (1980) e O Massacre da Serra Elétrica (1974).
É autor do livro “Religiões UFO: ufolatria que invade mentes”, publicado pela Editora Cia do Mistério, onde investigou com rigor histórico e olhar crítico as manifestações religiosas ligadas ao fenômeno ufológico.
Além da escrita, Rafael também é divulgador científico e editor-chefe da Revista Giordano, dedicada à difusão da ciência com uma abordagem acessível e interdisciplinar.
Está escrevendo agora seu primeiro terror chamado “Bootzamon”, no qual Rafael dá voz às sombras que sussurram por entre milharais, casas e estradas de Black Hollow. Mais do que uma história de terror, este livro é um mergulho no imaginário de uma América rural marcada por segredos antigos, pactos silenciosos e um mal que nunca desaparece — apenas espera a próxima colheita.