7 filmes cults para conhecer neste Halloween

Neste Halloween, para quem tem acompanhado as minhas redes sociais e meu canal no Youtube e/ou Tik Tok, tem percebido o trabalho de curadoria que tenho desempenhado nessa semana, separando e indicando dezenas de filmes para as pessoas conhecerem e assistirem. Aqui para o site, resolvi indicar alguns filmes considerados “cults” e que considero como boas escolhas para esse dia macabro.

A Semente Maldita (1956), dirigido por Mervyn LeRoy

Poucos filmes dos anos 50 conseguiram me prender tanto pela força da atuação quanto “The Bad Seed” (A Semente Maldita) de 1956.

Patty McCormack, ainda criança, entrega aqui uma das atuações mirins mais impressionantes da história do cinema, ao menos dos filmes que já assisti até aqui. Sua interpretação como Rhoda é assombrosa, porque ela é fria, calculista, manipuladora, e ainda assim convincente na imagem de “menininha perfeita” que engana todos ao seu redor.

Nancy Kelly também merece destaque, interpretando uma mãe que começa como zelosa e preocupada, mas que gradualmente se vê cúmplice dos crimes da filha, em um dilema moral que nos prende.

O que mais me fascina é como “The Bad Seed” constrói um terror psicológico poderoso sem recorrer à violência explícita. Tudo é sugerido por meio dos diálogos que criam uma atmosfera pesada. A trilha sonora ajuda a intensificar esse clima, e há uma cena que considero bem marcante: Rhoda tocando piano enquanto Leroy agoniza no porão. O contraste entre a música suave e o caos, cria para o espectador uma sensação desesperadora e de sufocamento.

Claro, o filme não é isento de falhas. Acho sua duração um pouco excessiva, o que poderia ser mais enxuto sem perder força dramática. Além disso, o desfecho peca pela pressa e pelo moralismo, algo muito comum nos anos 40 e 50, em parte por imposição do Código Hays, que exigia que criminosos ou personagens “imorais” fossem punidos em tela, o que levou Mervyn LeRoy a alterar o final da peça original da Broadway.

Inclusive, para quem não sabe, “The Bad Seed” foi originalmente uma peça teatral de grande sucesso, e tanto Patty McCormack quanto Nancy Kelly reprisaram seus papéis no cinema (Kelly, inclusive, ganhou o Tony por essa performance antes de ser indicada ao Oscar pelo filme). Outra curiosidade é que, para driblar o Código Hays, o estúdio incluiu um “epílogo moral” após o desfecho, como se quisesse reforçar ao público que aquela história não era um incentivo ao mal, mas sim uma advertência.

Mesmo com esses detalhes que o tempo torna essa obra datada, sigo recomendando-a fortemente. É um filme que vale muito a pena ser visto, especialmente por quem se interessa em como o cinema clássico podia gerar terror e desconforto apenas com atuação e narrativa, sem recorrer ao explícito.

Patty McCormack e Nancy Kelly durante uma cena do filme “A Semente Maldita” (1956), dirigido por Marvyn LeRoy. Um filme que foi adaptado de uma peça da Broadway e se tornou uma obra obrigatória para amantes do terror e do cinema dos anos 50.

Os Inocentes (1961), dirigido por Jack Clayton

Os Inocentes (1961), dirigido por Jack Clayton, é um clássico do terror psicológico que adapta a obra “A Volta do Parafuso”, de Henry James. Estrelado por Deborah Kerr, o filme acompanha uma governanta contratada para cuidar de duas crianças em uma mansão isolada, onde eventos estranhos e aparições inquietantes a fazem questionar se está lidando com fantasmas ou com sua própria sanidade.

Com uma atmosfera densa e fotografia em preto e branco magistralmente conduzida por Freddie Francis, o filme constrói o suspense com sutileza, ambiguidade e tensão crescente. “Os Inocentes” se destaca como um dos melhores exemplares do terror clássico, onde o verdadeiro medo nasce da sugestão e do desconhecido.

Um grande conselho que sempre dou para as pessoas que assistem algum filme de décadas atrás é olhar com a perspectiva daquela época, e não tentar ver com a ideia de cinema que temos atualmente. Para “Os Inocentes” dou este mesmo conselho para você que está lendo este texto.

A atriz Deborah Kerr como Miss Giddens em “Os Inocentes” (1961), dirigido por Jack Clayton. Gosto muito dessa cena onde ela segura um candelabro e anda pela mansão durante a noite, demonstrando os traços góticos presentes nesse belo filme.

Prelúdio para Matar (1975), dirigido por Dario Argento

Em “Prelúdio para Matar” (Profondo Rosso), filme este de 1975, Dario Argento entrega um dos pilares do “giallo”, combinando estética barroca com uma violência coreografada que beira o onírico. “Profondo Rosso” é mais sobre atmosfera do que sobre lógica, com uma trama de assassinato que se desenrola como um quebra-cabeça psicológico, cheio de pistas visuais para o espectador.

A trilha sonora do Goblin é um personagem à parte: pulsante, estranha e inesquecível. Diria que juntamente com “O Exorcista”, mas principalmente com “Profondo Rosso”, vemos um grande marco e salto no uso da trilha sonora para guiar espetacularmente bem um filme de terror, principalmente nos momentos de clímax do filme.

O filme tem também seus excessos, algumas atuações irregulares, um início não tão bom, além de momentos absurdos, mas tudo contribui para esse universo estilizado e perturbador.

Destaco bastante a maestria e brutalidade de algumas mortes no filme. Muitos filmes atuais não chegam nem perto de conseguir replicar algo tão brutal como Dário Argento consegue neste clássico.

“Prelúdio para Matar” é um suspense que soa como um pesadelo elegante e brutal nos dias atuais.

David Hemmings em “Prelúdio para Matar” de Dario Argento. Um dos meus filmes preferidos do diretor e que não poderia faltar em uma indicação minha para o Halloween.

Magic (1978), dirigido por Richard Attenborough

Poucos filmes de terror psicológico dos anos 70 me causaram o mesmo desconforto que “Magic” (também conhecido no Brasil como “Magia Negra”). Dirigido por Richard Attenborough e estrelado por Anthony Hopkins, o filme é um estudo de personagem disfarçado de suspense sobrenatural, embora nada ali seja exatamente “sobrenatural”. Hopkins interpreta Corky, um ventríloquo que começa a perder o controle sobre sua mente e passa a acreditar que seu boneco, Fats, tem vida própria.

O que mais impressiona é como o filme constrói a tensão de forma silenciosa e progressiva. Não há sustos fáceis, nem trilhas grandiosas, é tudo sobre a decadência mental de um homem que não sabe mais onde termina ele e onde começa o personagem que ele criou. A atuação de Hopkins é simplesmente brilhante, uma das mais intensas de sua carreira, anos antes de “O Silêncio dos Inocentes” (1991). Ann-Margret também está excelente, trazendo um contraste de doçura e humanidade diante do colapso psicológico de Corky.

A fotografia escura, o clima isolado da cabana e a direção precisa de Attenborough criam uma sensação de clausura e loucura iminente.

“Magic” é um filme que dialoga com obras como Psicose e antecipa o tipo de horror psicológico que anos depois veríamos em “Cisne Negro” (2010) e “Hereditário” (2018), além de antecipar-se com abordagens de bonecos sobrenaturais que seriam explorados mais tarde em filmes como “Brinquedo Assassino” (1988), “Annabelle” (2014), “Boneco do Mal” (2016) e outros. Vejo que é um filme obrigatório para quem quer explorar terrores poucos comentados e para quem tem interesse de entender melhor a trajetória de Hopkins antes do sucesso.

O boneco Fats em destaque ao lado de Anthony Hopkins como Corky em “Magic”. Um filme pouquíssimo lembrado pelo público e até por críticos, que marca um dos primeiros trabalhos reconhecíveis de Anthony Hopkins, muito antes de “O Silêncio dos Inocentes”.

Nosferatu: o vampiro da noite (1979), dirigido por Werner Herzog

O filme protagonizado por Klaus Kinski (como Nosferatu/Drácula), Bruno Ganz (Jonathan Harker) e Isabelle Adjani (Lucy) se apoia fortemente nesse trio. Herzog opta por concentrar a história nessas três figuras centrais, sem dar muito espaço para o Dr. Van Helsing, como vimos posteriormente na obra de Robert Eggers, “Nosferatu” (2024). Esse foco ajuda a manter a atmosfera densa em alguns momentos, mas também limita a riqueza textual do roteiro. Herzog constrói muito mais no visual e na sugestão do que na complexidade dos diálogos e é justamente aí que está parte de seu charme.

Há algo nesse filme que me conquistou de imediato: a coragem de Herzog em revelar sua criatura desde o início. O Nosferatu aqui não teme ser mostrado. A figura de Kinski é exposta sem artifícios, sob luz natural, em cenas que quebram qualquer expectativa de esconder o monstro nas sombras. A maquiagem é expressiva, quase teatral, e a presença de Kinski é simplesmente hipnotizante. Ainda assim, há uma leve falta de intensidade emocional na reação de alguns personagens diante do vampiro, especialmente Jonathan, que parece não se abalar tanto quanto deveria ao se deparar com a criatura.

O filme tem cenas realmente memoráveis. A sequência do jantar no castelo, quando Jonathan chega e é recebido por Drácula, é uma das minhas favoritas. É um momento que carrega toda a essência do gótico: o silêncio, a luz tênue, os gestos contidos e a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer. Também gosto muito da cena de Lucy no banheiro, penteando o cabelo, uma das mais elegantes e sutis representações do horror na obra. Herzog demonstra grande domínio do espaço e dos ambientes, alternando entre cenas claras e escuras com inteligência e com propósito.

Os belos cenários naturais são outro ponto alto. “Nosferatu: Phantom der Nacht” (nome original do filme) foi filmado em locações na Holanda, Eslováquia, Alemanha e República Tcheca, com destaque para o castelo de Pernštejn, conhecido por sua arquitetura gótica e longa história, datando do século XIII. Essa escolha de locações contribui imensamente para a imersão, reforçando o ar melancólico e romântico que permeia toda a obra.

O desfecho também é algo que valorizo muito. Herzog entrega um final coerente com o tom que constrói desde o início: sombrio, poético e inevitável. Não é um clímax explosivo, mas um encerramento que respeita o tempo e o estilo do diretor, fiel à sua abordagem mais contemplativa.

Em resumo, “Nosferatu: o vampiro da noite” é uma obra que envelheceu com dignidade e força estética. É um filme corajoso, com uma atmosfera densa, performances marcantes e uma assinatura visual inconfundível do Herzog. Pode não ser o mais assustador dos filmes de vampiro, mas é, sem dúvida, um dos mais belos e elegantes já feitos sobre o tema e que lhe indico grandemente neste Halloween.

Klaus Kinski como Conde Drácula e Isabelle Adjani como Lucy Harker em “Nosferatu: o vampiro da noite”. O meu filme preferido da temática de vampiros. Simplesmente uma obra-prima de Werner Herzog.

A sociedade dos amigos do Diabo (1989), dirigido por Brian Yuzna

“A Sociedade dos Amigos do Diabo” (Society, 1989) marca a estreia de Brian Yuzna na direção e já demonstra de forma explícita o tipo de horror que o consagraria: o grotesco como linguagem e a crítica social como pano de fundo. O filme começa com uma estrutura típica de drama adolescente, acompanhando Bill Whitney, um garoto rico que sente que há algo profundamente errado com sua família e com a elite ao seu redor. Aos poucos, a paranoia se mistura à realidade, e o que parecia apenas um delírio adolescente se transforma em um pesadelo de horror corporal com toques de conspiração e erotismo.

Yuzna usa o absurdo e o nojo como instrumentos de crítica, sendo ela uma metáfora física e repulsiva sobre como os ricos literalmente “devoram” os pobres. Os efeitos práticos de Screaming Mad George são um espetáculo à parte: repulsivos, criativos e totalmente inesquecíveis. A sequência final é uma das mais perturbadoras e simbólicas já vistas no cinema de horror corporal.

“Society” é uma sátira social envolta em humor negro e bizarrice, uma mistura entre O Bebê de Rosemary e Videodrome, mas com a estética e a ousadia típicas dos anos 80.

Uma das cenas mais perturbadoras de “A Sociedade dos Amigos do Diabo” de Brian Yuzna. Um terror corporal bem diferente e que simboliza bem os filmes de terror dos anos 80. Com certeza o filme mais fora da curva dessa lista especial de Halloween.

Hagazussa (2017), dirigido por Lukas Feigelfeld

Hagazussa (A Maldição da Bruxa), é um filme alemão-austríaco dirigido por Lukas Feigelfeld. Simplesmente um terror espetacular! Considero ele como o melhor filme da temática de bruxaria. Entretanto, preciso fazer algumas observações importantes, pois “Hagazussa” não é um filme para qualquer tipo de público.

Trata-se de uma obra para um público extremamente nichado, o que me fez pensar bastante se deveria colocá-lo ou não como uma indicação, mas preferi arriscar. Isso porque ele prevê que o espectador tenha um conhecimento prévio sobre bruxaria (e estou falando de bruxaria de verdade, não estou falando de Wicca ou qualquer crendice que se popularizou nas grandes cidades), assim como conhecimento sobre xamanismo, pois você verá muitos elementos ligados ao “xamanismo raiz” no seu enredo. Os elementos xamânicos e da bruxaria estão nessa obra do início ao fim do filme.

Ou seja, o que estou querendo dizer é que é um filme que se você não tem conhecimento sobre estes dois tópicos, você provavelmente (diria com certeza) não irá entender algumas cenas e decisões do diretor. Para algumas pessoas, talvez algumas cenas poderão não ter sentido ou propósito, mas acredite, todas elas têm sentido e propósito sim.

Falando agora de “partes técnicas”, Hagazussa tem uma fotografia maravilhosa, um cenário espetacular e que não poderia ser melhor, além de uma atuação excelente da atriz Aleksandra Cwen. O filme contém pouquíssimos diálogos, sendo ele mais contemplativo, o que faz bastante sentido com a experiência e história do filme. Não se trata de um terror estilo jumpscare, então não ache que você vai morrer de medo ou ter sustos com o filme, pois o intuito é impressionar, chocar e causar um desconforto com determinadas cenas. Ele é um filme estilo “A Bruxa” (2015) do Robert Eggers, porém com muito mais profundidade e cenas de desconforto do que ele.

Se eu fosse você, daria uma chance para esse filme. Mesmo que você não entenda, talvez após vê-lo poderá ter interesse em pesquisar mais afundo o tema e entender determinadas cenas e assisti-lo depois com uma nova visão.

Hagazussa é um filme que quase pensei em não colocar na lista, pois trata-se de uma obra para um público bem nichado, mas resolvi colocá-lo e lhe desafiar a assistir esse belo trabalho do diretor Lukas Feigelfeld.

E assim encerro as minhas 7 indicações de filmes para este Halloween. Espero que você tenha gostado e levado em consideração ao menos um filme para assistir nessa data e semana tão especial para os amantes do terror.

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